22 de dezembro de 2019

ALARU? PRESENTE!!!


Alaru, pan-africanista, linha de frente contra o racismo

21/12/19 por Kaique Dalapola para o Ponte Jornalismo.

Professor de história e fundador da União dos Coletivos Pan-Africanistas (UCPA)

Formado em História desde 2007, dizia que sua faculdade era a luta, as ruas e as praças. Lecionou na zona leste paulistana em escolas municipais e estaduais, além de dar aulas em cursinhos comunitários pré-vestibular.

Em agosto de 2000, quando editava o jornal autônomo Filhos da África, juntou com membros de outros cinco movimentos para formar a UCPA com o objetivo de difundir o pan-africanismo e o fortalecimento do povo preto de forma autônoma, sem vínculo com ONGs, partidos políticos, sindicatos e empresas. 

“Na época, queríamos provar a possibilidade de fazer luta em prol da comunidade preta sem estar atrelado a outras instituições. Queríamos ter o controle de nossas narrativas e agendas”, conta o professor Abisogun Olatunji, de 37 anos, que esteve com Alaru desde o começo da UCPA. 

Companheiros de movimento destacam que Alaru foi responsável por ensinar uma geração de jovens pretos a ter autonomia na luta contra o racismo e atuar intransigentemente contra a supremacia branca

“Alaru era um grito, um professor para cada preto e preta que luta diariamente pela dignidade de nosso povo. Foi uma perda irreparável”, diz o assistente jurídico Wesley Nascimento, 27 anos, que militou no mesmo movimento que ele por cerca de um ano.

O militante negro Jomo Akanni, de 46 anos, destaca que Alaru “sempre pautou a luta coletiva como o mais importante”. Parceiros de luta durante 17 anos, Akanni lembra que o professor “criou o termo pan-africanista por essência, que seria um reconhecimento a irmãos e irmãs que, apesar de não se denominarem seguidores do pan-africanismo, tinham o amor ao povo preto como pilar de vida”.

O ativista negro Kairu Kijani, de 22 anos, diz que Alaru “foi muito dedicado e com muita disposição na luta, acolhedor e carinhoso na forma de tratar os irmãos”. Afirma ainda que o professor “ensinou a amar o povo preto e lutar por todos os meios necessários”. 

Para Wesley, “era incrível observar os jovens por volta dos 18 anos que ficavam em silêncio para ouví-lo, pois todos tinham consciência do aprendizado que teriam com ele”. Eles se conheceram durante protestos pela liberdade do ajudante Igor Barcelos Ortega

Em uma manifestação pela liberdade de Igor, que também apontavam racismo nas prisões da modelo Babiy Quirino e do educador Marcelo Dias, em setembro do ano passado, Alaru foi o responsável por puxar um jogral no fim do protesto. 

“Nós não podemos acreditar em promessas de partidos políticos, a justiça não é cega, a justiça é branca e racista. Nós temos que nos organizar, entre nós, em nome de uma única bandeira, a bandeira do povo preto. Lutar por liberdade e poder para o povo preto”, disse na ocasião. 

Em outro ato que a Ponte cobriu e Alaru estava na linha de frente, militantes negros escracharam uma manifestação de brancos em frente ao Palácio dos Bandeirantes, no Morumbi, zona sul da capital paulista. Os moradores da região foram às ruas para apoiar os policiais militares que mataram o menino Ítalo Ferreira de Jesus Siqueira, de 10 anos. 

Enquanto os brancos entoavam palavras de ordem apoiando a morte do menino, na manhã de 11 de junho de 2016, Alaru usava uma caixa de som, acompanhado de outros militantes negros, para dizer que estavam lá “mais uma vez denunciando e prontos para o enfrentamento contra o povo que apoia o genocídio do povo negro”.

Em 2017, novamente o professor estava na linha de frente das manifestações denunciando racismo no caso do menino João Victor Souza de Carvalho, de 13 anos, que morreu em frente ao Habib’s da Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte paulistana, em fevereiro. 

Depois de um dos protestos que terminou com o fechamento momentâneo de duas unidades da esfiharia, no dia 1º de abril, Alaru disse sobre a importância em “manter o enfrentamento contra esse gigante chamado Habib’s, que é uma forma de não cair no esquecimento o caso do João Victor e o genocídio que acontece com nossas crianças”.

Sempre preocupado com as crianças, sonhava em construir uma escola pan-africanista na periferia da zona leste paulistana, onde vivia. Ele deixa a companheira com quem tem dois filhos ainda criança e outro filho de 20 anos de um relacionamento anterior.

No Facebook, a advogada Dina Alves, que integra o IBCCRIM (Instituto Brasileiro de Ciências Criminais), disse que “a luta pela educação e por uma sociedade antirracista perdeu um professor”, e destacou que “a luta segue e seus ensinamentos serão lembrados”.

Nos registros, Alaru deixa a frase que costumava puxar nas manifestações: “Racistas, otários, nos deixem em paz”. 

O professor de história e ativista negro Alaru morreu no dia 20 de dezembro (2019), aos 43 anos. Fundador da UCPA (União dos Coletivos Pan-Africanistas), ele esteve na linha de frente em importantes manifestações contra o racismo.

O ativista morreu em decorrência de problemas cardíacos. Ele ficou internado no Hospital Geral de São Matheus, na zona leste da cidade de São Paulo, e morreu na tarde de sexta-feira. O velório aconteceu na manhã de sábado (21/12), e o enterro à tarde, no cemitério da Vila Formosa, também na zona leste.


6 de setembro de 2019

Comunidade do Escadão, na Cohab 5, em Carapicuíba, resiste com bravura a tentativa de desocupação por parte do Estado de São Paulo!



Mais de 1000 famílias estão ameaçadas de despejo por ordem do Estado de São Paulo. Os ocupantes da terra, hoje moradias já construídas, defendem sua permanência no local por não se sentirem atendidas plenamente pelas políticas do governo do Estado. O direito à moradia, para muitas famílias, ainda segue ignorado.
O terreno (na Cohab 5, em Carapicuíba) onde as famílias estão estabelecidas é reivindicado pela Cohab, que não apresentou nenhum projeto local de modo que beneficie as famílias ocupantes.
Os trabalhadores que fazem parte da comunidade do Escadão sabem que se saírem dificilmente terão suas necessidades de moradia atendidas. O prefeito de Carapicuíba, Marcos Neves (PV), como qualquer político, passou sua campanha prometendo resolver o problema de moradia da comunidade. Tão logo ele chegou ao poder, sua máscara caiu: além de negar acesso a moradia digna ao povo, Marcos Neves bota a Guarda Municipal e chama a polícia para reprimir as pessoas que ocupam aquele espaço. Tendo inclusive, de forma totalmente ilegal, instalado câmeras num poste para vigiar toda movimentação das pessoas que ali só querem viver.

Os vários relatos das pessoas da comunidade mostram uma série de abuso de poder e violação de direitos humanos: pessoas idosas aterrorizadas, feridas, machucadas; trabalhadores espancados e alvejados por balas de borracha, crianças atingidas pelo gás lacrimogêneo, e até pessoas especiais agredidas pelas ações da Guarda Municipal e da Polícia Militar. É o Estado burguês, que se diz de direito, fazendo uso da política do terror contra os mais pobres!
Na tentativa de expulsar as pessoas que ocupam e dão função social àquele terreno, que por décadas esteve abandonado, as autoridades governamentais (o governador Doria e o prefeito Marcos Neves) aplicam o terror para amedrontar a comunidade. E qual tem sido a reação das pessoas que lá ocupam?  
Os trabalhadores têm respondido nas ruas a ameaça de despejo. Há uma semana eles vêm organizando atos públicos, bloqueios de ruas, manifestações, pressionando a prefeitura de Carapicuíba e o governo do Estado a darem uma resposta que atenda ao seu déficit de moradia, que não é pouco.
A justiça, que é mais um órgão do mesmo Estado burguês, determinou a saída dos ocupantes do local até o dia 12 de setembro, próxima quinta-feira, descumprindo uma série de protocolos legais como por exemplos: não obrigar a administração pública a indicar local de destino para as famílias; não disponibilizar aluguel social para quem precisa; nem mesmo respeitar o direito a permanência das mais de 400 crianças à escola. E assim, o Estado segue demonstrando sua incapacidade de dialogar: em todas as manifestações que os trabalhadores realizaram para cobrar a devida atenção, a polícia reprimiu com sua força habitual. Balas de borracha, spray de pimenta e gás lacrimogêneo, foram os únicos instrumentos, até o presente momento, apresentados pelo Estado.
Se, diariamente a periferia da grande metrópole paulista já vive a sombra dos coturnos policiais, depois que os trabalhadores decidiram se manifestar publicamente, denunciando o descaso da política de habitação do governo do Estado de São Paulo, muito mais passaram a viver sob o terror policial.
Toda solidariedade de classe aos trabalhadores e trabalhadoras da comunidade do Escadão! Todo apoio é necessário para fortalecer a resistência de quem luta por dignidade e é tratado com a violência que o estado oferece! Todo apoio à resistência da comunidade do Escadão com o que for necessário!
A comunidade do Escadão sabe que é impossível enfrentar um inimigo tão forte apenas apelando a passividade enquanto é tratada com brutalidade pelo Estado burguês.
 Viva a resistência popular! Todo poder ao povo trabalhador!
Abaixo a ditadura burguesa e seu Estado fascista!
Viva a revolução socialista!

9 de agosto de 2019

PROFESSOR TONHÃO? PRESENTE!!


Touro
A Antonio Geraldo Justino (Tonhão)

 A grandeza de um touro não se mede pelo seu tamanho 
E sim pela sua irredutível força de sonhar com um mundo livre.

Nasceu, cresceu e viveu em seu rebanho pobre                                                                    
Até tomar consciência                                      
Da necessidade que o atormentava                                 

(pasto pouco, pouca água: liberdade que tardia)                                                                    
De modo a não aceitar                                        
- sob qualquer hipótese –                           
Viver cercado e sendo conduzido,               
Por outros membros que não eram
propriamente os seus,                                  
Para um futuro impróprio,                          
Para o matadouro!
Na juventude e na maturidade                        
O touro admira o Mouro.                           
Logo, o touro tornou-se bravo.                      
Não aceitava açoite,                                      
Nem tampouco condução,                   
Conduzia-se.
Numa dada fase de sua vida                       
Para se livrar da ameaça constante               
De ser transformado em                           
Couro de tamborim,                                        
Ou troféu em parede,                                        
Nem sentir sua preciosa carne nutrindo      
Os mais indesejáveis corpos elitizados, 
Decidiu que não haveria outro caminho   
Que não fosse o enfrentamento direto 
Contra seus proprietários.
Touro astuto,
Percebeu que numa peleja                       
Sozinho seria facilmente derrotado.
Convenceu-se da necessidade                          
De se organizar a revolta                                
No interior do cercado.
Ansiava ver toda uma boiada enfurecida, 
Sob as condições de privações 
em que vivia,                                                
Arrebentando cercas e arames farpados,   
Esmagando seus donos...                        
Fazendo-os pagar caro                                     
Por todos os anos                                             
Que a mantiveram aprisionada.
Mas, tendo se esforçado anos a fio,        
Sempre sonhando com um mundo livre,
(novos campos, novas paisagens,      
novos ares, fartos pomares...)                                              
Foi traído, apunhalado nas costas,              
Por toureiros sanguinários.
Jamais compactuou com os sanguessugas                                              
Das tetas gordas do Estábulo,                   
Muito menos se curvou                      
diante do inimigo.
Por sua coragem,                                             
Por sua audácia em desafiar gente grande,                                                        
 Em provocar seu tempo,                         
Agitando a revolta a partir do rebanho,
Ameaçando quebrar todo o cercado...
Por tudo isso,                                                        
O touro é perseguido,                                     
Isolado,                                                           
Quase esquecido.                                                 
É exilado em seu próprio quintal.
E, mesmo ferido gravemente                    
Jamais se rendeu                                        
Diante do esquema que lhe armaram       
Para lhe ver dominado.
Ê Touro marrento,                                              
Ê Touro danado!                                                 
Ê touro de força descomunal                      
Sabe brigar mesmo machucado.
Touro valente, ainda que                                    
- aparentemente –                                            
Seu vigor físico tenha esfriado,                         
O calor de sua ventas em chamas,                  
No fragor de sua lucidez disparada,  
Continua a aquecer muitos corações
Desaquecidos,                                      
Sinalizando que antes das chamas          
Existe um velho touro vivo,                            
Muito vivo,                                               
Sonhador para além da liberdade.
Dá-lhe touro!